Queria morrer contigo

'Queria morrer contigo
Não queria morrer de ti.

Prendi o amor nos meus braços
Mas uma chuva de areia negra
Cospe o meu sangue para onde o coração

Queria morrer contigo
Contra o corpo limite do dia
Arder praias onde o tempo acabava
Começar Deus onde era o fim
Não queria morrer de ti.

A noite toda tem a espessura da perda
A boca beija o batimento da terra
O medo abraça-me.

E ainda é tão tarde para
Que morramos os dois.'

Pedro Sena Lino

Estou cansado(a)

'Estou cansado, é claro, Porque, a certa altura, a gente tem que estar cansado. De que estou cansado, não sei: De nada me serviria sabê-lo, Pois o cansaço fica na mesma. A ferida dói como dói E não em função da causa que a produziu. Sim, estou cansado, E um pouco sorridente De o cansaço ser só isto — Uma vontade de sono no corpo, Um desejo de não pensar na alma, E por cima de tudo uma transparência lúcida Do entendimento retrospectivo... E a luxúria única de não ter já esperanças? Sou inteligente; eis tudo. Tenho visto muito e entendido muito o que tenho visto, E há um certo prazer até no cansaço que isto nos dá, Que afinal a cabeça sempre serve para qualquer coisa.' Álvaro de Campos

fracasso

desisti.

tentei tudo: humilhei-me, implorei, tremi.
precisei de um picador de gelo. daqueles bem afiados. mas acho que nem isso me ia ajudar.
o pior? o teu sorriso. cínico ou condescendente? não faço ideia. mas, sem dúvida, desconcertante.

no meio disto tudo, no meio da minha mágoa e do meu desgosto, confesso que sei que sou muito melhor que tu. ao menos, insisti.

Deixo-te (para sempre) com um cliché: sê feliz.

ao rodrigo

"Olhar, sentir, dizer
- É aqui
e descansar porque pertence."

"Pudéssemos viajar, não para lugares longínquos de paisagens tremendas, não ao encontro de outros povos, culturas e cheiros, outras gentes e sabores, mas ao interior uns dos outros."

arrepio

já agora...

"temos de respeitar as idiossincrasias dos outros."

porquê?

-me

ardes dentro de mim.. consomes-me..
estás dentro dos meus olhos.. cegas-me..
esfumaças dentro de mim.. sufocas-me..

fomentas a minha angústia.. desvaneces a minha vida.. evaporas-me..

indiferença

não me conheces, não me vês, não me sentes, não sabes que eu existo..

tens a tua vida, eu não interfiro.. tenho a minha, mas tu interferes.. ambiguidade, melancolia, porquê? de todas as dúvidas que me rodeiam, que me envolvem, és talvez a mais desconhecida, a mais absurda, a mais desvanecida, mas também a mais duvidosa.. enches-me ao mesmo tempo que me esvazias.. constróis-me ao mesmo tempo que me evaporas.. porquê?

triste momento em que te vejo, feliz instante em que te olho.. sou invadido por estranhos, estranhos que entram, queimam, curam mas não saem.. mística é a sensação de ser sufocado.. por duas cordas que estrangulam para sentidos opostos.. uma desespera-me.. outra extasia-me..

devo ter problemas..